domingo, 14 de agosto de 2011

Um parágrafo para um estudo sobre valor cognitivo da arte


Ao observar, por exemplo, a fotografia de Chaplin e a multidão (acima), me vêm várias coisas na cabeça. Coisas que remetem a indústria cultural, as guerras mundiais, o americanismo, o american way of life, a alegria e liberdade artística, a submissão das pessoas, o sistema de estrelato, a idolatria... e talvez várias outras coisas que eu não consiga nem encontrar uma palavra chave. Eu não sei exatamente o porquê a fotografia me remete a tais coisas (talvez não saber, nesse caso, seja a alma do negócio). Mas com certeza, ela agrega algum tipo de conhecimento ao que eu sei sobre aquelas coisas; não um conhecimento em sentido da epistemologia, discursivo, mas algo sensível. É provável que se eu não tivesse um conhecimento prévio acerca de tais assuntos que a fotografia me remete, ela não passaria de percepção; então esse tipo de conhecimento o deixaria de ser – no caso da indústria cultural isto fica bem óbvio, e também, saber que é Chaplin, pois me faz adivinhar a época.


(Ouro Preto, 11 de julho de 2011)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

uma crítica à Lady Gaga

            (Lady Gaga no clip de Telephone)


Lady Gaga é uma pessoa bem interessante, uma vez que encontra adeptos (fãs) que vêm de todos os segmentos (leia-se, os cults e os “comuns”); por isso não é difícil ver alguma pessoa do meio artístico, filosófico e coisas que tais (cults) louvando-a como algo que escapa ao esquema da música de massas (da chamada indústria cultural – termo que facilita muito o entendimento); agindo em relação a ela como algo a que podem se dar ao luxo de se igualarem às massas, de perder a postura blasé e se “divertir” sem compromisso (algo que a música cult não o permite com tanta desenvoltura).
Sem dúvida alguma há algo diferente na cantora (ou estrela; não sei bem se ela canta ou se é tudo eletrônico, já que em cada música a voz dela é diferente); o fato de parecer realizar uma crítica em suas letras e clips, algo que as suas semelhantes não o fazem, é notório. É por isso que uma vez um crítico de arte de um jornal mineiro disse que Lady Gaga realizava uma “resistência dentro do sistema”, termo que vêm do francês Deleuze.
Eu tendo a discordar e gostaria de ter a oportunidade de desenvolver mais o assunto, tendo em vista o termo de indústria cultural e o de apropriação que Adorno diz que ela realiza, que é o que parece ocorrer aí – mercadoria disfarçada de arte.
O que me dá indicativos de que algo do tipo ocorre aí é uma questão da recepção de suas obras. Quando o público cult recebe suas músicas/clips ele, obviamente, nota a crítica, a ironia que existe ali – até porque estão acostumados/treinados a encontrar esse tipo de coisa (são formados, estudados); mas me parece (com base em percepção empírica) que os fãs de música eletrônica pop (aqueles que ouvem tanto Gaga – uma feminista – quanto aquelas pessoas que ela parece criticar – mulherzinhas como a Britney) não parecem ser modificados por isso; não parecem absorver aquela crítica; se mudam é algo puramente formal: ou seja, copiam as roupas, cabelos, gestos, tornam-se uma Lady (com o perdão do trocadilho que possa haver aí). Se absorvem a crítica, entenderão talvez que a “raça homem” deve ser pisada.   
Adorno fala sobre a importância da forma estética, que é o mecanismo através do qual a obra pode realizar uma crítica sensível da sociedade... É o que parece faltar no caso da Gaga: quem ouve sua música na radio e não sabe que é ela que está cantando ou não entenda inglês, não notará diferença alguma entre ela e a Britney ou a Madonna. Isto porque falta à obra uma crítica objetiva, substancial, da qual seja impossível escapar, que incomode até mesmo aquele espectador mais cético e frio – que é o que parece haver com as obras de arte.  
Uma pesquisa sobre a recepção de sua obra, sobre o que faz com seus ouvintes era algo necessário para provar que ela realiza uma resistência dentro do sistema ou que não seja mais uma mercadoria muito mais bem feita que as outras, uma vez que “agrada a gregos e troianos”.


(Pouso Alegre, 03 de agosto)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Energia, vibe, tipo assim...

A filosofia deve dar conta de dialogar com modismos da linguagem, ruídos e gírias, sob o risco de não mais realizar o princípio de isonomia sobre o qual foi construída, sob o risco de recair num tecnicismo autoritário típico das seitas secretas e da religião. O filósofo profissional ou estudante de filosofia deve estar atento ao fato de que nem todo mundo domina os conceitos filosóficos; deve saber que mesmo dentro da filosofia há discordância de significados e usos diversificados dos conceitos; e que, principalmente, isso não impede ninguém de fazer filosofia. Pelo contrário, aquela pessoa que não consegue entender algo que fuja do significado dicionaresco – ou seja, aquele que é dominado pelos conceitos – que não pode fazer filosofia, uma vez que esta própria é contrária às coisas estabelecidas, exatas... Não há nada que seja imune à razão filosófica, é isto que estão esquecendo. E se eu quiser dizer com, por exemplo, “energia”, “vibe”, “isto é do caralho!”, etc. coisas interessantes? Devo ser desconsiderado? Se sim, isto tem um nome: falácia ad hominen!    

(Ouro Preto, 11 de julho de 2011)

            O mesmo vale para toda pessoa “politizada” (ativistas sociais, ecologistas, feministas, educadores) que do alto de uma arrogância, disfarçada de simplicidade que aceita tudo o que vem das classes baixas, quase que vai a loucura quando alguém usa uma palavra “proibida”, considerada por eles como politicamente incorreta, carregada de um sentido negativo... Como se todas as pessoas fossem culpadas de não saber que, nos últimos, 15 minutos, no último congresso de educação, proibiu-se aquele uso... Como se fossem culpadas da história (a maioria não teve nem chance de ser culpada ou não).

(Pouso Alegre, 01 de agosto)


            Sobre o tema, encontrei algo ótimo de Simon Blackburn, no prefácio do dicionário Oxford de Filosofia (aparentemente, algo que as pessoas com quem discuto acima consultam):

            “A filosofia, por sua natureza, habita em áreas de ambiguidade e perplexidade, lugares onde, na expressão de Russell, só encontramos fragmentos incertos de sentido. Os filósofos constroem sua reputação contestando sentidos: o sucesso consiste muitas vezes em mostrar que seus predecessores compreenderam mal as categorias de experiência, razão, demonstração, percepção, consciência, virtude ou lei. Tais discussões são intrinsecas e extensas. As filosofias, como os movimentos do pensamento em geral, exigem longas formulações e resistem a definições ligeiras.”




Descrição original do blog (+ de 500 caracteres)

Já perdi muitas anotações em gavetas de escrivaninhas e guarda roupas - este blog deve ser mais seguro!

Embora um diálogo possa ser feito em um papel ou mentalmente com interlocutores diversos, eles tendem a se enriquecer se estão sempre à vista ou com a adição de mais perspectivas.
Além disso, filosofia é, sim, argumentação, discussão, mas é também questionamento. E quando estamos desenvolvendo um tema, argumentando, pesquisando, somos obrigados a deixar questões de lado, sob o risco de não mais fazer filosofia, isto é, de não pensarmos em questões filosóficas, cumprindo apenas uma parte do que nos pede a filosofia, de nos tornarmos especialistas, pela obrigação de não pensar em nada que não estejamos completamente embasados – perdendo o pensamento fresco, livre.
Esses escritos são aquilo que não quis deixar perder, mesmo sob o risco de ser bobo.
Este blog também pode ser bom pra isso!