quinta-feira, 12 de abril de 2012

autobiografia


Folheando um caderno em busca de um fichamento encontrei um texto autobiográfico que escrevi há alguns anos atrás. Não se trata de um debate no formato do blog, mas mesmo assim o reproduzo abaixo: 

Costumava se definir como curva. Uma curva tão curvilínea que no seu meio havia retas! Possivelmente dizia isto para impressioná-los. Talvez esperasse por aplausos. A verdade mesma é que nunca havia dito isto. Somente uma vez, na tentativa de fazer um poema com jogos de palavras. Era bem afeito aos jogos de palavras e só começava um texto quando pensava algo que achava poético. “Como nos inícios de textos famosos”. Por isso não iniciava muitos textos... Gostava de impressionar. Ou talvez nem gostasse, mas se sentia obrigado a ser algo. Novinho, diziam dele “– É bonzinho, educado e inteligente!” Se sentia não merecedor daquilo. Sabia-se a si mesmo. Era tímido, bobo e fracote. Mas esperavam dele. Gostavam dele mesmo que não abrisse a boca. Tinha mesmo é nascido pra ser grande; pra ser “star”, como lhe disseram certa vez. Então ele era: um dia foi príncipe, outro dia cantor... ele mesmo era quase nunca. E até quando o era, vivia de fora; tinha uma “meta-vida”, como gostou de definir uma vez para impressionar-se. Talvez por isso fosse tímido: antes de viver tinha imaginado e reimaginado a situação 10 vezes. Ou então era tímido mesmo pelo medo de que o descobrissem. “Era grande coisa nenhuma!” Por isto, exceto perto dos amigos mais próximos (não tinha muitos amigos), era quase mudo; perto dos pais era quieto, deixava que seus amigos fossem mais deles do que de si próprio. Realmente sabia, pouco merecia o que tinha. Haviam se enganado! Mas não ia ser ele que ia mostrar a verdade. Tinha medo de ser normal. Durante um tempo até pensou que era mesmo aquilo que lhe falavam. Tinha projetos! Quer dizer, meios-projetos que chegou a levar a frente. Meios-projetos grandes: o reconheciam.