segunda-feira, 2 de julho de 2012

Filosofia em directo*


            Quando se pergunta a um pesquisador de filosofia (ou filósofo) qual é o tema que ele estuda, normalmente se tem em mente uma pesquisa acadêmica, com orientador, projeto de pesquisa, órgão financiador (de preferência) e tantas outras exigências burocráticas.
            É fato que o ato de se dedicar a escrever um projeto sobre um tema que se tem interesse em pesquisar, fazer um levantamento bibliográfico, ter um financiamento, justificativa e discussões com um orientador são relevantes para uma boa pesquisa. Porém, tais coisas não são condições necessárias para se fazer filosofia. Esquece-se que de uma coisa importante do filosofar autêntico; uma coisa próxima daquilo que os antigos chamavam “admiração”. Esquece-se que muitas vezes a “admiração” não pode esperar que se termine uma pesquisa para se iniciar outra e que, se tudo aquilo que interessa a um filósofo pesquisar tivesse que receber um tratamento de fundo acadêmico, este pouco poderia pesquisar; e o pior: pouca coisa o admiraria.
            Estranhamente, as pessoas que exigem pesquisas acadêmicas por parte dos filósofos são as mesmas que negam o denominador “filósofo” a “meros” acadêmicos de filosofia.
            Enquanto que a academia tem o poder de proporcionar boas pesquisas, uma vez que embasadas, aprofundadas e bastante refletidas, por outro lado pouca ou nenhuma filosofia autêntica tem produzido. Há alguma coisa séria aí.          
           
“Só quem não se acomoda ao princípio da troca pode apresentar-se como garante da ausência da dominação; só o inútil garante o enfraquecimento do valor unitário” (Theodor Adorno, Teoria Estética, p. 342)

*O título é em referência ao livro homônimo do professor e filósofo Desidério Murcho

(Ouro Preto, 2 de julho de 2012)

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