Quando se pergunta a um pesquisador de filosofia (ou
filósofo) qual é o tema que ele estuda, normalmente se tem em mente uma
pesquisa acadêmica, com orientador, projeto de pesquisa, órgão financiador (de
preferência) e tantas outras exigências burocráticas.
É
fato que o ato de se dedicar a escrever um projeto sobre um tema que se tem
interesse em pesquisar, fazer um levantamento bibliográfico, ter um
financiamento, justificativa e discussões com um orientador são relevantes para
uma boa pesquisa. Porém, tais coisas não são condições necessárias para se
fazer filosofia. Esquece-se que de uma coisa importante do filosofar autêntico;
uma coisa próxima daquilo que os antigos chamavam “admiração”. Esquece-se que
muitas vezes a “admiração” não pode esperar que se termine uma pesquisa para se
iniciar outra e que, se tudo aquilo que interessa a um filósofo pesquisar
tivesse que receber um tratamento de fundo acadêmico, este pouco poderia
pesquisar; e o pior: pouca coisa o admiraria.
Estranhamente,
as pessoas que exigem pesquisas acadêmicas por parte dos filósofos são as
mesmas que negam o denominador “filósofo” a “meros” acadêmicos de filosofia.
Enquanto
que a academia tem o poder de proporcionar boas pesquisas, uma vez que
embasadas, aprofundadas e bastante refletidas, por outro lado pouca ou nenhuma
filosofia autêntica tem produzido. Há alguma coisa séria aí.
“Só quem não se acomoda ao princípio da
troca pode apresentar-se como garante da ausência da dominação; só o inútil garante
o enfraquecimento do valor unitário” (Theodor Adorno, Teoria Estética, p. 342)
*O título é em
referência ao livro homônimo do professor e filósofo Desidério Murcho
(Ouro Preto, 2 de julho de 2012)
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