quinta-feira, 15 de setembro de 2011

La vie en Rose

 
        O quanto o mundo dominado pela razão que se acredita eficiente somente a partir de uma frieza e imparcialidade (falsas), constituído e construído a partir das proposições meramente masculinas em detrimento do feminino (e nesse caso nem precisamos fazer diferença de sexo biológico, embora essa também fosse verdadeira, não obstante a falsidade dessa divisão), exclui a sensibilidade e o não idêntico (em termos principalmente do diferente da maioria estatística), poderia ser atestado, especialmente pelos indivíduos do sexo masculino, quando estes passam algumas horas somente rodeamos por homens. A conversa nos meios masculinos (barbeiros, botecos, repúblicas masculinas, etc.) é a mais banal possível, a mais comum; inclui desde futebol, até piadinhas homofóbicas – o que de fato não nos dá uma grande amplitude de assuntos, talvez dois ou três a mais. Se a conversa é em frente à TV, não raro será interrompida por uma exclamação grosseira de um estranho desejo sexual pelas “gostosas peitudas” ou “bundudas gostosas”, seguido por adjetivos como “vagabunda”, “vadia” entre tantos outros; programas que fazem chorar serão sempre “chatice”, seguidos de olhares pra ver quem se emocionou; o que não é diferente em relação aos programas educativos e politicamente corretos: “chatice”.
O assunto, quando em bando (não é demais lembrar que “bando” e “bandido” têm a mesma etimologia), nunca será sobre “fraquezas”: não há espaço para desabafos, amores, tristeza... Enfim, nunca se podem demonstrar sinais de “bixice”. De tanto conviverem entre si, acrescente-se, reprimidos, acreditando que um pouco de elegância na fala, na postura corporal, um pouco de individualidade que se permita “fraquezas”, depõe contra sua masculinidade (o que também é estranho que alguém deseje ter), deixam mesmo de conseguir se expressar, de entender a si mesmos, até não sentir mais, e então, não entenderão mais nada: para que são importante políticas públicas de inclusão, leis contra preconceitos, etc. Em detrimento disso tudo, serão favoráveis às políticas que propõem solucionar tudo a partir da violência, como a partir do BOPE, do controle de natalidade para famílias de baixa renda, da diminuição da menoridade penal, etc. – medidas tipicamente masculinas, idênticas ao longo da história. Por isso uma saída péssima seria que o feminismo (felizmente cada vez mais refinado) se assemelhasse ao machismo, que a imagem da mulher “moderna” reproduza a do homem prático, do empresário de sucesso, do individuo bem resolvido, do homem rígido, isto é, da insensibilidade, da dominação de si em detrimento da vida pessoal.
A boa noticia é que o “macho dominante” tende, por enquanto, a desaparecer. Sinais disto dão a chamada “geração Y”, com seus (nossos) blogs, e seu “egoísmo” e a crescente onda do politicamente correto, que ao menos publicamente envergonha (pela primeira vez na história) o reacionarismo típico dessas figuras.                      
O título dessa nota cantava Edith Piaf. E assim dava dicas para o vindouro desenvolvimento dessa questão...

(São João del Rei, 5 de setembro de 2011)

7 comentários:

  1. E o que você tava fazendo em SJDR? =P~

    Adorei o texto, Rique! Vou compartilhar, ok?

    =*

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  2. Cara... Já falei certa vez em uma discussão contigo e com o Danilo sobre a possibilidade da idéia ser como uma espécie de campo intangível ao qual se pode vislumbrar e, dependendo do meio em que se insere, é possível de disseminação por meios suprassensíveis.

    Pois bem. Falei já sobre o feminismo, ao qual acho bacana e tenho certamente demonstrado mais interesse (ainda mais com a ninoca lendo coisa do tipo, coisa que nunca fez e, por tal mudança, sinto orgulho).

    A música utilizada para denominar o texto foi muito ouvida por mim e pela Priscila (minha esposa querida que amo cada dia mais!!!!) entre os dia 05 de Setembro e dia 10 de setembro, seja na voz da Edith Piaf ou na excelente versão so Jazzista Louis Armstrong.

    Sinceramente, gosto mais da versão em Jazz. Acho que dá um ar de nostalgia fenomental (esse comentário é puramente estético, ou seja, não ache que estou sendo "corporativista" em eleger a versão "masculina" como melhor, pois são coisas distintas).

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  3. Ramiro, sobre a "idéia" eu não vou opinar, porque não sei exatamente o que você pretende dizer com isso. Se você quiser conversar sobre o assunto, me explique, por favor.
    Mas de qualquer forma, sempre trabalhei com a hipótese de que a arte ou produtos culturais encarnem o "espírito" ou tendências da sociedade em que estão inscritas. Descobri que o Adorno pensava algo parecido, mas com a diferença que pra ele isso acontece de forma refratária, ou seja, não como mera cópia do existente social, mas metamorfoseado (o que compro em gênero e número). Talvez "idéia" e "existente social" sejam o imediatamente contrário um do outro, como são a meu ver, ou se você conceber "idéia" como "espírito", "tendência", "mentalidade vigente", aí então estamos falando da mesma coisa.

    Neste caso (do la vie en rose) não pensei especificamente nisso, mas principalmente no título e no fato de a cor rosa ter sido ao longo da história, falseada como algo que tem a ver apenas com meninas; bem como o fato de que a sensibilidade vem sendo considerada fraqueza, algo abominável, típico das mulheres (consideradas "fracas) e também levo em conta que o genero é algo socialmente construído (e em decorrencia disto, somado a existência de ideologias dominantes, no sentido de Marx) imputado falsamente às pessoas... algo que tem que ser mudado, substituido pelo direito a "uma vida cor de rosa". Por mais engraçado que isso possa parecer, resume bem.

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  4. ramiro, fiquei pensando ontem e percebi que fui um pouco relapso na minha fala. na verdade, o que disse acima é verdadeiro quanto a ESTA música. mas nao descarto quanto a arte ter grade potencia para modificar a situação. não ela sozinha, claro. qualquer coisa sozinha nesse caso é um tanto quanto restrita; assim como as leis, a filosofia, a ciencia, nao resolvem a situação sozinha. mas sim a arteeducação, a educação, o fim do preconceito... E nisso a arte pode auxiliar enquanto sensibilizadora entre outras coisas...
    Essa vida de acessar a web correndo dá nisso. rs

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  5. Enrique, acerca do "espírito", "ideia": sim, estamos falando da mesma coisa. Todavia, não possuo a carga acadêmica que você possui neste aspecto, por isso fui simplista [uma analogia que tanto eu, quanto você podemos entender seria traduzido na "rede de loucura malkaviana (cara, como RPG ajuda nesses casos!!)].

    Minha ideia acerca da música é a ideialização de algo, em como determinado fato acontece e como deveria acontecer. De certo, a educação (sempre ela, hunf! pobres professores!) é a melhor solução para a modificação de paradigma.

    A cor de rosa (atenção, o texto a seguir não é original, sendo transcrição de um site que será disponibilizado no final do comentário) "acalma, relaxa e abre o coração. Traz leveza e suavidade, conforto e aconchego à alma. Ensina a fraternidade entre os seres" e por esse motivo foi relegado às mulheres, por o homem deveria ser forte e sábio, Imóvel como uma rocha, pela visão ocidental [as ideologias (?) dominantes].

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  6. Saquei, cara! E não há nenhum problema em ser "simplista". Pelo contrário!!(Sobre o RPG, ele me ajuda demais em vários aspectos da vida! Ter jogado anos de "Vampiro: a mascara" com você mestrando vale por vários desses cursos de empreendorismo, NBA em administração, psicologia, etc... rsrsrs)

    É pois é... agora desde quando as mulheres sao necessáriamente assim? Isso é algo construído socialmente (sendo que os "construtores" dessa sociedade são os homens...)
    É claro que deve haver algo corporal que diferencie ambos os sexos... (fiquei pensando sobre isso ontem a noite, mas perdi o raciocínio, então vou continuar concordando com você pra aproveitar o espaço) Não sei se podemos pensar em tempos longínquos e dizer que lá era possível que os humanos vivessem a partir de sua natureza (não sei se é possível haver uma natureza humana) e nem que como era antigamente (sem as "imposições" culturais) era melhor, algo que deveriamos seguir a risca... Porque senão estariamos dizendo claramente a favor da dominação, do assassinato, etc... também não acredito que tudo o que há na sociedade seja uma imposição: há coisas que são do desejo comum, afinal. O problema está em homens e mulheres não poderem ser sensíveis e fortes ao mesmo tempo ou não serem nada(e quando mesmo assim tentarem, serem tachados de vários nomes pejorativos). Quero desenvolver melhor isso depois.

    Usei ideologia no sentido de Marx e da teoria crítica: como um tipo de idéia sobre a qual se controe a sociedade, mas que se mascara, se esconde, esconde as verdadeiras facetas... Viu como é ruim quando não se é simplista? Usa-se uma "carga acadêmica" que vira linguajar para "iniciados"... e assim perde-se a força do discurso!

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