segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Energia, vibe, tipo assim...

A filosofia deve dar conta de dialogar com modismos da linguagem, ruídos e gírias, sob o risco de não mais realizar o princípio de isonomia sobre o qual foi construída, sob o risco de recair num tecnicismo autoritário típico das seitas secretas e da religião. O filósofo profissional ou estudante de filosofia deve estar atento ao fato de que nem todo mundo domina os conceitos filosóficos; deve saber que mesmo dentro da filosofia há discordância de significados e usos diversificados dos conceitos; e que, principalmente, isso não impede ninguém de fazer filosofia. Pelo contrário, aquela pessoa que não consegue entender algo que fuja do significado dicionaresco – ou seja, aquele que é dominado pelos conceitos – que não pode fazer filosofia, uma vez que esta própria é contrária às coisas estabelecidas, exatas... Não há nada que seja imune à razão filosófica, é isto que estão esquecendo. E se eu quiser dizer com, por exemplo, “energia”, “vibe”, “isto é do caralho!”, etc. coisas interessantes? Devo ser desconsiderado? Se sim, isto tem um nome: falácia ad hominen!    

(Ouro Preto, 11 de julho de 2011)

            O mesmo vale para toda pessoa “politizada” (ativistas sociais, ecologistas, feministas, educadores) que do alto de uma arrogância, disfarçada de simplicidade que aceita tudo o que vem das classes baixas, quase que vai a loucura quando alguém usa uma palavra “proibida”, considerada por eles como politicamente incorreta, carregada de um sentido negativo... Como se todas as pessoas fossem culpadas de não saber que, nos últimos, 15 minutos, no último congresso de educação, proibiu-se aquele uso... Como se fossem culpadas da história (a maioria não teve nem chance de ser culpada ou não).

(Pouso Alegre, 01 de agosto)


            Sobre o tema, encontrei algo ótimo de Simon Blackburn, no prefácio do dicionário Oxford de Filosofia (aparentemente, algo que as pessoas com quem discuto acima consultam):

            “A filosofia, por sua natureza, habita em áreas de ambiguidade e perplexidade, lugares onde, na expressão de Russell, só encontramos fragmentos incertos de sentido. Os filósofos constroem sua reputação contestando sentidos: o sucesso consiste muitas vezes em mostrar que seus predecessores compreenderam mal as categorias de experiência, razão, demonstração, percepção, consciência, virtude ou lei. Tais discussões são intrinsecas e extensas. As filosofias, como os movimentos do pensamento em geral, exigem longas formulações e resistem a definições ligeiras.”




Nenhum comentário:

Postar um comentário